O corredor de aventura procura a superação de seus limites de forma criteriosa tendo a natureza como aliada ou oponente em cada novo desafio. Da mesma forma se comportam nossas articulações, procurando se adaptar às condições de esforço à que estão sujeitas, mesmo que nas condições mais adversas.
A competição é um fator de estímulo para o treinamento da corrida de aventura, mas preparar-se para superar os próprios limites não é uma tarefa simples. Descobrir o ponto ótimo de estímulo de um atleta sem provocar uma quebra do equilíbrio do organismo é muitas vezes uma dúvida que nos norteia frequentemente.
Como todas as estruturas vivas do nosso corpo, durante o esforço ocorrem adaptações constantes que permitem chegarmos ao final de uma prova, sem que estejamos com problemas.
O joelho é uma destas engrenagens mais que perfeitas do nosso corpo. É a maior e mais complexa articulação do organismo e depende de um conjunto de estruturas funcionando de maneira harmônica.
As lesões do joelho do corredor de aventura podem ser divididas em dois grandes grupos, aquelas ditas traumáticas e as lesões por sobrecarga.
As lesões de causas traumáticas são decorrentes de acidentes provocados por contato direto contra estruturas fixas ou móveis (contusões, ferimentos, fraturas, luxações, entorses) e geralmente ocorrem após quedas na corrida, bike, trecking ou qualquer outra modalidade.
Os ferimentos de pele (escoriações, perfurações, lacerações) são situações freqüentes no esporte e devem ser lembrados os fatores de proteção (roupas compridas, joelheiras) assim como equipamentos ou materiais de primeiros socorros durante ao treinamento ou competição.
Dentro das lesões traumáticas, a energia durante o acidente gera movimentos anormais do joelho, podendo provocar lesões de estruturas nobres como os meniscos, a cartilagem articular e os ligamentos. Tais lesões são geralmente limitantes, podendo vir acompanhadas de dor, inchaço ou bloqueio (limitação da flexão e extensão). Nas condições onde haja deformidade da articulação após ocorrer a lesão, acompanhada de dor e perda de função devemos considerar a imobilização do membro. O diagnóstico deve ser feito precocemente por um especialista, já que o tratamento precoce e adequado seja clínico ou cirúrgico propicia geralmente um retorno à prática esportiva.
As lesões por sobrecarga representam o segundo grande grupo de patologias do joelho do corredor de aventura em função das características do esporte. Alguns fatores podem ser considerados predisponentes às lesões por sobrecarga como programas de treinamento inapropriados ao atleta, alimentação inadequada, recuperação após esforço insuficiente, equipamento inadequado e condições anatômicas especiais.
As atividades do dia a dia provocam estiramentos nos tendões da ordem de 0 a 2% de seus comprimentos, porém os movimentos do esporte demandam frequentemente estiramentos entre 2 a 4%, caracterizando assim a sobrecarga.
Se considerarmos que durante a corrida, ocorrem em torno de 1800 impactos/km absorvidos em parte pelo mecanismo de flexão e extensão do joelho e no ciclismo, o joelho realiza movimentos de flexo-extensão na ordem de 80 X/minuto, 4800 X/hora pedalada, podemos avaliar o quanto nossos joelhos têm que se adaptar para receber as cargas de treinamento sem que ocorram complicações.
As tendinopatias (doenças dos tendões) são doenças originadas das condições de sobrecarga e podem ser limitantes no esporte, provocando sinais e sintomas como dor, inchaço e diminuição do rendimento esportivo.
No joelho, o ligamento da patela, os tendões flexores (ísquio-tibiais) e o trato ílio-tibial (TIT) são os mais frequentemente envolvidos nas modalidades de endurance.
A síndrome do trato ílio-tibial (STIT) é uma das lesões por sobrecarga mais frequentes e caracteriza-se por inflamação do trato iliotibial, gerando dor na parte lateral do joelho.
A STIT pode ser chamada também de “Runners’Knee” (joelho do corredor). Acomete até 12 % dos praticantes de corrida, mas também pode estar relacionada ao ciclismo e praticantes de caminhadas.
O início da dor se manifesta nos primeiros minutos do esforço físico, que piora progressivamente, limitando os objetivos do treinamento. As condições de subidas ou descidas podem provocar piora da dor e até fazer o atleta parar, porém após alguns minutos de repouso, a dor desaparece espontaneamente, mas logo reaparece com o um novo exercício. A insistência em correr com a dor pode agravar a inflamação, causando também irradiação para a coxa ou perna, inchaço, crepitação (estalidos) e nos casos crônicos (limitações de flexibilidade e rigidez).
Não há uma regra perfeita para a prevenção das tendinopatias, mas manter um hábito mínimo de alongamento, aquecimento e atenção a um treino bem programado são regras básicas para o atleta que quer se ver livre do problema. Devemos lembrar de corrigir movimentos da corrida, pedal ou caminhada e atenção aos fatores predisponentes.
A gravidade das lesões do joelho está diretamente relacionada ao tempo de existência da lesão sem diagnóstico ou tratamentos inadequados, portanto esperar muito é sinônimo de um longo tempo de tratamento.
Mantenha o rumo e cuide dos seus joelhos!