A cartilagem, que reveste nossas articulações, é um tecido altamente especializado e apresenta características especiais: não possui vascularização, inervação ou vasos linfáticos. Tais características anatômicas explicam, em parte, o ambiente desfavorável para as condições de reparo das lesões.
As células, chamadas de “condrócitos”, representam 1% de uma complexa matriz de água, colágeno e proteoglicanos (proteínas e açucares). As células são os únicos elementos vivos da cartilagem articular e são capazes de formar toda a estrutura da matriz ao seu redor. São essas células, que interpretam as pressões, que a cartilagem sofre ao longo da vida, e modificam a estrutura da matriz, para melhor se adaptar.
A função principal da cartilagem articular adulta é revestir as articulações, mantendo a eficiência mecânica dos movimentos. Devido a sua sofisticada composição, seu alto teor de água (65% a 80%) e sua capacidade de suportar pressão hidrostática, a cartilagem é capaz de transferir e reduzir forças de grandes magnitudes de uma superfície de osso à outra.
Outra propriedade fundamental, é conferir um baixo coeficiente de atrito entre as superfícies deslizantes.
Numerosos estudos descrevem a grande variação nos volumes de cartilagem encontrados nas articulações humanas nos diferentes sexos, idades, pesos, alturas e volumes de osso.
Dentre os benefícios observados na prática esportiva, o exercício físico tem demonstrado ser capaz de aumentar as massas óssea e muscular, enquanto os estados de inatividade e de micro-gravidade tem sido associados à atrofia destes tecidos. A cartilagem difere dos outros tecidos musculoesqueléticos durante as situações de carga, por não apresentar aumento da massa total, como resultado da estimulação mecânica.
Embora as propriedades mecânicas da cartilagem tenham sido estudadas amplamente em laboratório, até recentemente poucos estudos revelaram informações sobre as características das deformações, que ocorrem sobre as condições reais de carregamento em humanos. Por exemplo, qual a intensidade e frequência dos movimentos, que podemos fazer sem que a cartilagem sofra uma lesão? As informações obtidas por estudos em tecidos isolados em laboratório não podem ser extrapoladas para as condições reais, pois a magnitude das cargas sobre as articulações durante os gestos esportivos ainda é desconhecida.
A cartilagem pode sofrer deformações transitórias, à medida em que sofre compressão, e o retorno à condição original depende de como esta pressão é aplicada. A deformação da cartilagem articular durante uma atividade física específica é um evento complexo, determinado por vários fatores como: a intensidade e distribuição das cargas, a integridade da superfície articular (ausência de lesões), a anatomia e biomecânica das articulações e a composição bioquímica do líquido de revestimento (sinovial).
Alguns autores realizaram estudos para avaliar o comportamento da deformação da cartilagem articular após os exercícios físicos. Os resultados revelaram as seguintes mudanças na espessura da cartilagem: áreas com redução transitória da espessura (1 a 9%), variações de deformação dentro de uma mesma superfície e outras áreas sem diferenças significantes entre as situações pré e pós-exercício. Durante as caminhadas, por exemplo, a cartilagem da patela (joelho) sofre uma compressão média de 2 a 3%, quando comparada a situações de repouso sem carga. O exercício intenso, por outro lado, pode acrescentar 2 a 3% na média de compressão, aos valores encontrados durante as atividades físicas normais.
Muito ainda deve ser pesquisado sobre os limites dos tecidos humanos frente ao esforço físico, o que nos deixa sem respostas sobre a fronteira entre o normal e as lesões.
Bons treinos!