A Osteoartrite do Joelho e o Tratamento Farmacológico

3 de abril de 2018 | Por

A osteoartrite (OA) é a forma mais comum de artrite crônica e afeta principalmente as articulações dos quadris, joelhos, mãos e pés. A osteoartrite (OA) se caracteriza por um desequilíbrio entre a síntese e a degradação da matriz de cartilagem hialina. A degradação da cartilagem é mediada por: citocinas pró-inflamatórias; metaloproteinases da matriz (MMPs): colagenases, estromelisina, gelatinases, agrecanases, prostaglandinas e óxido nítrico.

O envelhecimento da população em geral combinada com a crescente prevalência da doença geram enorme impacto físico, emocional e financeiro sobre os pacientes e suas famílias. No Brasil, há cerca de 12 milhões de brasileiros com osteoartrite, o que equivale a 6,3% da população adulta. A população de indivíduos maiores de 60 anos, hoje é cerca de 19 milhões. A estimativa é de que em 2050 a população no Brasil acima de 60 anos será maior do que 64 milhões de pessoas. Entre os idosos acima de 65 anos, 85% apresentam evidências radiológicas de osteoartrite.

Nos EUA, estima-se que 36,4% dos indivíduos com mais de 60 anos apresentem OA de joelhos. A população com OA no joelho nos EUA, atualmente é estimada em 10.9 milhões e espera-se alcançar 13.5 milhões até 2020. A taxa de crescimento estimada da osteoartrite é parcialmente atribuída ao envelhecimento da população e ao aumento da obesidade e da inatividade física.O Estudo Framingham estimou que a prevalência da OA no joelho nos EUA é comparável à doença cardíaca e superior ao diabetes.

A Osteoartrite manifesta-se de forma diferente em cada articulação e apresenta taxa de progressão também diferente. A doença apresenta uma população heterogênea de pacientes com diferentes histórias de enfermidades associadas e diferentes subtipos de osteoartrite.

Os fatores de risco para o desenvolvimento da osteoartrite são: lesão articular, fatores mecânicos (fatores anatômicos, varo/valgo), obesidade, metabólicos, fatores genéticos, idade, deformidades congênitas e adquiridas, outras doenças modificadoras da cartilagem e estrutura óssea.

Os principais sinais e sintomas da osteoartrite são:
* Dor inicialmente após os esforços físicos, torna-se constante com o agravamento da OA e também aparece durante o repouso.
* Dissociação clínico-radiográfica: a intensidade da dor não depende da gravidade ou estágio da doença
* Rigidez articular, geralmente transitória por cerca de 30 minutos, geralmente após inatividade prolongada.
* Limitação funcional
* Deformidade: aumento de volume das articulações, sinovite articular, formação de osteófitos, aumento da crepitação, redução do arco de movimento, bloqueios articulares, presença de corpos livres, aumento das deformidades angulares

Radiografia do joelho em AP com imagens de osteoartrite do compartimento lateral do joelho

A primeira linha de tratamento enfoca o alívio dos sintomas com o manejo não cirúrgico. Há uma série de opções não cirúrgicas para os profissionais escolherem, entretanto, a eficácia comparativa desses tratamentos não está bem definida.

O estudo de Bannuru et al realizou uma revisão abrangente de estudos de metanálise de ensaios clínicos randomizados disponíveis para avaliar a eficácia relativa de vários tratamentos farmacológicos para a osteoartrite primária do joelho. Foram 137 ensaios clínicos randomizados, constituídos por 33.243 pacientes, incluídos nesta meta-análise de rede. O objetivo deste estudo foi avaliar e comparar a eficácia dos tratamentos farmacológicos atuais para osteoartrite primária do joelho. Tratamentos como corticosteróides intra-articulares, ácido hialurônico intra-articular, acetaminofeno, naproxeno, ibuprofeno, diclofenaco, celecoxibe e placebos orais e intra-articulares foram comparados com base em seus efeitos na dor, função e rigidez. Os resultados indicaram que todas as intervenções foram significativamente mais favoráveis do que o placebo oral para os resultados da dor. Além disso, com exceção dos corticosteroides intra-articulares, todas as intervenções foram significativamente superiores ao placebo oral em relação aos desfechos funcionais. O naproxeno, o ibuprofeno, o diclofenaco e o celecoxibe mostraram-se tratamentos superiores para a rigidez do joelho, embora a maioria dos tratamentos tenha levado a efeitos similares.

Os resultados de 129 estudos (32 129 pacientes) indicaram que todas as intervenções apresentaram desfechos significativamente mais favoráveis ​​relacionados à dor em 3 meses em comparação com placebo oral. O maior tamanho de efeito foi encontrado para ácido hialurônico (AH) (0,63 [Crl, 0,39 a 0,88]) e o menor tamanho de efeito, e apenas melhora não clinicamente significativa, foi encontrado para paracetamol (0,18 [Crl, 0,04 a 0,33]).

Os resultados de 76 estudos (24 059 pacientes) indicaram que todas as intervenções, exceto corticosteróides intra-articulares e placebo intra-articular, tiveram um efeito significativo nos resultados relacionados à função em 3 meses em relação ao placebo oral. Naproxeno, ibuprofeno, diclofenaco e celecoxibe foram significativamente superiores ao acetaminofeno. Ácido hialurônico (AI) demonstrou o maior tamanho de efeito (0,45 [CrI, 0,08, 0,84]) e também foi significativamente superior ao placebo intra-articular e corticosteróides intra-articulares.

Dados de 55 estudos (18 267 pacientes) foram reunidos para avaliar os resultados de rigidez em 3 meses, e naproxeno, ibuprofeno, diclofenaco e celecoxib foram encontrados para ser estatisticamente superior ao placebo oral e paracetamol. Ácido hialurônico intra-articular foi significativamente superior ao placebo intra-articular.

Os resultados gerais do estudo de Bannuru et al indicaram que os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) causaram mais efeitos colaterais gastrointestinais e retiradas do estudo do que o placebo oral ou o acetaminofeno, embora a incidência desses eventos tenha sido semelhante entre o acetaminofeno e o celecoxibe. Todas as intervenções farmacológicas para osteoartrite primária do joelho foram significativamente superiores ao placebo oral em relação à dor, e todas as intervenções além dos corticosteroides intra-articulares foram significativamente superiores ao placebo oral para a função. Embora o placebo oral e o acetaminofeno tenham sido significativamente inferiores aos outros tratamentos para rigidez, a maioria dos tratamentos apresentou efeitos semelhantes.

O ácido hialurônico (AH) é um polissacarídeo polianiônico, também conhecido como um glicosaminoglicano. As células chamadas de sinoviócitos, localizadas na membrana sinovial são os responsáveis pela produção de AH. A concentração de AH é de 2 – 4 mg/ml no líquido sinovial de uma articulação saudável. A distribuição do ácido hialurônico na articulação do joelho é de 64% na cartilagem hialina, 19% no líquido sinovial e 7% na membrana sinovial. As funções gerais do ácido hialurônico são: proteção do tecido sinovial e a superfície de colágeno de danos mecânicos ou devido a espécies reativas de oxigênio, preenchimento do espaço intercelular das redes de colágeno fibrilar agindo como um lubrificante, absorção de impacto devido à natureza elastoviscosa das redes permitindo uma adaptação ao estresse mecânico aplicado e efeito antiinflamatório e analgésico, através da redução da expressão de IL-1 (interleucina -1) e supressão da atividade TNF-α (fator de necrose tumoral alfa).

O ácido hialurônico (AH) é uma droga modificadora da doença osteoartrite (DMDOA) de uso intra-articular, e a sua aplicação recebe o nome de viscossuplementação (VS). Do ponto de vista econômico é cada vez maior o número de trabalhos demonstrando que, se incorporada ao tratamento da OA de joelhos, a viscosuplementação com ácido hialurônico pode apresentar boa relação custo-efetividade, sendo inclusive capaz de retardar a realização de uma artroplastia total do joelho.

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